segunda-feira, 16 de abril de 2018

Um Rio de Paixão


Segundo a tradição cristã, os eventos em torno da morte e ressurreição de Cristo que constituem a  principal festa do cristianismo trazem em seu bojo grandes esperanças, e são de importância universal para a humanidade.

A cidade do Rio de Janeiro foi fundada por Estácio de Sá em um período quaresmal. E passados 453 anos, vivem os cariocas, mais uma vez e de forma agudamente inédita,  um período de Paixão que os faz mártires cotidianos – como seu Santo padroeiro -  da criminalidade que ganhou formato epidêmico.

Completou no dia 16 de Março, um mês do decreto que instaurou uma Intervenção Federal-militar na área da Segurança Pública.  Noves fora a bizarrice jurídica de uma intervenção parcial, algo não previsto na Constituição, a motivação desse ato  construído sem planejamento, ao sabor de uma ação marqueteira que buscou mudar o foco das atenções da grave crise política e de credibilidade por que passa o governo central,  trouxe em caráter inédito para o centro da cena política e social as FFAA, notadamente o Exercito Brasileiro.

O General Braga Neto, nomeado interventor, teve de inicio uma postura honesta e transparente ao afirmar que não tinha plano para a tarefa que lhe fora confiada. Alem disso identificou de forma correta que uma das questões centrais a serem tratadas no seu consulado seria a da correição das policias, pois como disse o Ex- Chefe de Policia  do Rio, Delegado Helio Luz “o problema da segurança é mais dos mocinhos que dos bandidos”

Passados 30 dias, a situação é  pior que antes do decreto. Comparado o mesmo período do ano anterior os números da segurança publica se deterioraram ainda mais.

E como ápice dessa Lua de Fel para “coroar” o mês de intervenção, o assassinato brutal da vereadora Marielle Franco mostra que o poder paralelo ao Estado afronta a democracia e busca delimitar territórios.

Nós desde o início nos posicionamos contrários a intervenção, seja pela sua inconsistência jurídica, seja pelo seu aventureirismo político.

Diante desse quadro ou o General Braga Neto assume de fato o Comando da situação, impondo sua autoridade sob as Policias  e preserva a imagem das FFAA  não limitando sua atuação a um pretenso e já fracassado “laboratório em um bairro popular na Zona Oeste do Rio.

Enquanto  isso a Cidade é martirizada diuturnamente  pelo crime com uma PM despreparada que produz cadáveres  atirando a esmo  em confrontos  no meio de civis, nas ruas e favelas do RJ. São 3.967 tiroteios ocorridos em 2017. E com baixíssimo resultado pratico.

Esse martírio dos cariocas  cujo símbolo foi a  morte da vereadora Marielle e de seu motorista, pode e tem soluções.

Basta que a sociedade civil, o poder publico e os homens e mulheres de bem possam conduzir em aliança uma guinada onde a produção da Paz social será resultado de um enfrentamento decisivo entre o modo velho pensamento da  segurança publica  e suas praticas  e o novo  modo que deve se basear no tripé planejamento, inteligência e repressão qualificada.

Enfeixados por uma ação que traga o Estado em sua integralidade às áreas hoje dominadas pelas milícias e pelo narcotráfico. Junto com a Segurança Educação.Saúde, Cultura, Empreendedorismo. Dignidade e Oportunidades.Direitos Humanos.

Após a Paixão vem a Ressurreição e a Páscoa. Elas abrem uma nova perspectiva, Os incontáveis sofrimentos que se transformam em dramas podem ter seu fim.

Mas há de se ter  vontade política para se fazê-lo. Sem isso o martírio vai prosseguir e se aprofundar.  E o Rio viverá uma eterna Paixão.





Newton de Oliveira é Mestre em História pela UFF, professor de Direito do Mackenzie Rio e Ex Subsecretario Geral de Segurança do RJ.

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